quarta-feira, 13 de março de 2013

O "Casamenteiro" Vinicius


Vinicius amou demais e durante toda a vida dele. Sem paixão por uma mulher, o poetinha perdia a inspiração, entristecia e até morria um pouco. O amor o iluminava.


O primeiro amor foi aos 7 anos. O nome dela era Branca. "Comecei a amar Branca porque um dia, no portão de sua casa, minha mão encostou de leve em sua perna. Nunca mais esqueci essa sensação", contou Vinicius no livro de João Carlos Pecci. Depois, namorou quase todas as amigas da irmã Laetitia até conhecer a paulistana Beatriz Azevedo de Mello, a Tati, viajada, de família aristocrata e noiva. 

A paixão foi fulminante, porém ele tinha acabado de ganhar uma bolsa de estudo na Inglaterra. Viajou sozinho porque a amada precisava convencer os pais a terminar o noivado para se casar com Vinicius. Casaram-se por procuração e ela embarcou para a Inglaterra. Foram 11 anos de convivência, dois filhos, Susana e Pedro. A relação durou até 1950, porém, entre 1945 e 1947, o poeta teve um casamento escondido e conturbado com uma arquivista do Itamaraty, Regina Pederneiras, que foi perdoado por Tati, a única com quem ele se casou no civil. "Vinicius quis muitas vezes que a gente se reaproximasse. Não queria ser amiguinha dele. Foi uma burrice. Eu podia ter continuado a relação e até ser amante dele. Não fiz por orgulho", disse Tati quando o poeta morreu. 

O terceiro casamento foi com Lila Bôscoli, amiga de Danuza Leão, bisneta da compositora Chiquinha Gonzaga. Era linda e muito jovem (19 anos) e, quando o escritor Rubem Braga apresentou Lila ao poeta, disse: "Lila Bôscoli; Vinicius de Moraes, e seja o que Deus quiser". Casaram-se e tiveram duas filhas: Georgiana e Luciana. ?Vinicius era um namorado eterno. Nunca vi pessoa mais amorosa. A gente namorava o tempo todo?, contou Lila a João Carlos Pecci. "Mas não era santo! Dava suas namoradinhas por aí, e eu sabia. Nos separamos em 1957." 

Vinicius já estava atraído por Maria Lúcia Proença, sobrinha do amigo Octávio de Faria, que havia conhecido quando ela era adolescente. Dezoito anos depois, eles se reencontraram numa festa. Ela era casada e tinha um filho, contudo perdeu o chão ao ver o poeta. O encontro definitivo foi em Paris  eles saíram para jantar numa Sexta-Feira Santa e depois do acidente de carro em Petrópolis, a relação entre eles ficou mais forte, até Lucinha se separar do marido e viver com o poetinha (seu quarto casamento). Por causa dela, em 1958, Vinicius, que ainda tinha posto diplomático em Montevidéu, pediu autorização para voltar ao Rio: "Preciso, de fato, voltar ao Rio de Janeiro. Não é um problema material, de dinheiro ou de status profissional. Tudo isso é recuperável. É um problema de amor. Pois o tempo do amor é que é irrecuperável." Ele recebeu a autorização. Viveram bem por cinco anos, muito apaixonados. Porém, quando o fantasma do tédio tomava conta de Vinicius, era o fim. Para ela, compôs "Apelo". "Se pudesse voltar atrás, não iria me separar de Vinicius, jamais", confessou Lucinha para João Carlos Pecci. 

Quando Vinicius de Moraes se casou pela quinta vez, em 1963, com Nelita Abreu Rocha, o pintor Di Cavalcanti, que tinha por hábito retratar as mulheres do poeta, questionou: "Você tem certeza de que esta é definitiva?" Sem obter resposta, ele continuou: "Está bem, eu pinto mais essa, mas fique sabendo que é a última". Ela tinha apenas 18 anos e era namoradinha de um jovem que procurava Vinicius, cinqüentão, para aprender poesia. Paixão impossível, a princípio. 

Nelita também queria Vinicius e eles se encontravam às escondidas. Depois de um desabafo do poeta que pretendia desencarnar de tanta paixão, Carlos Lyra sugeriu que ele a raptasse e a levasse para Paris. Sobrou para Tom Jobim, incumbido de conduzir o casal ao aeroporto. "Lembro-me de que Tom foi para minha casa, com o paletó pendurado nas costas, e comentou: "Pois é, aquele tiro vai sobrar para mim". No dia seguinte, saiu um anúncio no jornal, dos pais de Nelita, comunicando o casamento da filha com Vinicius de Moraes. Assumiram. Foi fantástico!", disse Carlos Lyra em entrevista publicada no Songbook 3. 

O casamento durou até aparecer Christina Gurjão, em 1969, com quem Vinicius teve Maria e uma relação tumultuada, que quase terminou em assassinato. Christina, grávida de cinco meses, ficou furiosa com a traição de Vinicius e, inconformada, se dirigiu ao quarto onde ele descansava com um candelabro. Ao perceber que iria ser atacado, ele jogou-a no chão. Tudo por causa da baiana Gesse Gessy, de 31 anos, apresentada a ele por Maria Bethânia numa pizzaria em Salvador. "Eles saíram do restaurante, viajaram e se casaram", contou Bethânia. ?Mudaram para Itapuã e Vinicius comprou um jipe.? 

A cada mulher com quem Vinicius se casava ele dizia: "Esta será minha viúva". Gesse não foi. Haveria ainda mais duas. A poetisa argentina Marta Ibañez, de 22 anos, 40 a menos que ele, foi a oitava esposa com quem também teve um casamento rápido e viveu entre Rio e Punta del Leste, onde comprou uma casa de veraneio. O nono casamento foi, em 1976, com a estudante de letras Gilda de Queirós Mattoso, 23 anos, essa, sim, a viúva do poeta. 

Qual delas Vinicius amou mais? Não importa, pois todas elas se sentiram especiais com o poetinha e, com certeza, todas foram verdadeiramente especiais. "Casou-se nove vezes em busca de uma paixão eterna. A grande angústia é que ele sabia que não ia encontrar", disse Toquinho no documentário Vinicius. Quem sabe...

Boa Noite!

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